domingo, 14 de agosto de 2011

a pedagogia do oprimido

FACULDADE METROPOLITANA DA GRANDE FORTALEZA
PROFESSORA: RACHEL GABRIEL BASTOS BARBOSA
ALUNA: VALDERINA BARROSO BARBOSA








“A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO”
(Paulo Freire)









Março de 2011


INTRODUÇÃO



Paulo Reglus Neves Freire, educador brasileiro, nasceu em Recife no dia 19 de setembro de 1921 e faleceu de infarto em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997. Foi professor de português em escolas secundárias antes de inventar seu método audiovisual para a alfabetização de adultos. Como Diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade de Recife (1961-1964), aplicou seu plano-piloto na cidade de Angicos (RN) visando alfabetizar a população adulta de baixa renda. Em 1963 é elevado à direção do Plano Nacional de Educação, do Governo João Goulart, que objetivava a alfabetização de 16 milhões de brasileiros. Com o golpe militar de 1964, teve que se retirar do país, exilando-se no Chile, passando a trabalhar para o governo chileno na alfabetização de adultos e na pós-alfabetização.
A convite de universidades americanas e da UNESCO, fez conferências nos EUA e na Europa. Com a redemocratização do nosso país, voltou ao Brasil e foi secretário de Educação do Município de São Paulo, no governo da prefeita Luiza Erundina e passou a contribuir para o desenvolvimento da educação em nosso país e em outros países, especialmente da América Latina e da África.
Escreveu uma vasta obra sobre educação, da qual destacamos alguns livros: Educação e realidade brasileira (1959); Educação como prática da liberdade (1967); Pedagogia do oprimido (1970); Educação e mudança (1979); Pedagogia da Autonomia (1997), etc.

A PEDAGOGIA

A doutrina e prática educacional de Paulo Freire estão classificadas como uma das correntes da pedagogia progressista. Sua tendência pedagógica é chamada de Pedagogia Libertadora.
A Pedagogia de Paulo Freire é contra o autoritarismo do Estado, da escola, dos professores, e dá valor à experiência vivida dos educandos em sua vida coletiva, pregando a autogestão pedagógica. Procura valorizar mais o processo educativo do que os conteúdos de ensino. A prática educativa dá ênfase às discussões, assembléias e votações nas decisões. A educação só faz sentido se for como prática de libertação social. Por isso que na época de seu surgimento, foi rejeitada pelas classes dominantes como sendo uma prática subversiva e o próprio Paulo Freire admitiu que sua pedagogia não poderia ser institucionalizada, isto é, ensinada oficialmente, tendo que sobreviver à margem do sistema oficial. O próprio Paulo Freire teve que se exilar no Chile. Hoje, não é raro professores adotarem suas práticas em sala de aula.


A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO

A “Pedagogia do oprimido”, que é uma continuação do seu livro anterior, “Educação como prática de liberdade”, trata da educação como prática de libertar o homem da opressão e da exploração em que se encontra, especialmente os trabalhadores.
Mostra Paulo Freire como o poder das palavras pode ser usado pelo sistema para criar e perpetuar uma sociedade opressora contra os trabalhadores, como pode ser utilizado para libertá-los. Trata também da educação bancária, da dialogicidade e da teoria da ação antidialógica.

O poder das palavras

Paulo Freire diz que sua pedagogia é humanista, visa resgatar a dignidade, a humanidades dos homens, que ora estão oprimidos. E a palavra é um instrumento poderoso, tanto para oprimir como para libertar. No caso dos analfabetos adultos, alcançar esse humanismo é alfabetizá-los. E “alfabetizar é conscientizar. Alfabetizar é lutar pela transformação da sociedade, visando a emancipação humana:” (2008, p. 9).

“Uma pesquisa prévia investiga o universo das palavras faladas no meio cultural do alfabetizando. Daí são extraídos os vocábulos de mais ricas possibilidades fonêmicas e de maior carga semântica – os que não só permitem rápido domínio do/ universo da palavra escrita, como, também, o mais eficaz engajamento de quem a pronuncia, com a força pragmática que instaura e transforma o mundo humano” (2008, pp. 9-10).

Em princípio, o oprimido sente “medo da liberdade”. Está tão acostumado com seu estado de submissão que não vê nenhuma saída para sua situação. Outros oprimidos, por outro lado, caem no fanatismo, no extremismo sectário, que não é o caminho para a emancipação.
Somente a ação ajuizada pela reflexão (razão) constituem uma práxis revolucionária libertadora. Somente ela é capaz de vencer a violência física e ideológica da elite exploradora e dominadora. Assim, os líderes da libertação precisam usar uma práxis libertadora com os oprimidos e não para eles.
Paulo Freire também trata da alienação do trabalhador. Alienar significa, dar, vender, ceder. Isto significa que o proletário não só cede o seu trabalho para o explorador como também sua consciência, sua espiritualidade. O trabalhador é cedido, alienado, ao explorador tanto material como espiritualmente: torna-se uma propriedade do capitalista. Nisto consiste sua desumanidade (cf. 2008, p. 32). E aqui, entra o papel da ideologia.
Ideologia é um conjunto de idéias que tenta justificar (legitimar) uma determinada formação social. Por exemplo, no capitalismo, a burguesia tenta justificar o capitalismo como um excelente regime para se viver e em que existem pobres apenas porque estes são preguiçosos, são seres inferiores, que não poupam o que ganham. Já no modo de produção comunista, seus representantes dizem que o capitalismo não presta, que se fundamenta na exploração do homem pelo homem e que tal regime deve ser abolido através de uma revolução feita pela classe proletária, unida à classe camponesa. Por isso, a classe trabalhadora deve lutar para se libertar da alienação e dessa ideologia que lhe é imposta pela elite dominante.
Não nos esqueçamos que Paulo Freire recebeu influência de Karl Marx, o fundador do socialismo científico e da doutrina social da Igreja Católica que, a partir o Concílio de Medelin (Colômbia), fez opção preferencial pelos pobres. Tal doutrina que visa libertar os pobres da exploração chama-se Teologia da Libertação e teve muita influência na América Latina, especialmente nas décadas de 60 e 70.

A Concepção “Bancária” da Educação

Paulo Freire condena os atuais modelos de educação, por que estes não procuram desenvolver a consciência crítica do educando, mas querem apenas transformá-lo em vacas, em alimárias, seres obedientes, gado para serem explorados.
A educação fornecida pelo regime burguês visa apenas “depositar” na mente do educando informações para adestrá-lo, treiná-lo para ser um bom torneiro da Ford, um bom soldador da Fiat, tal como se treina um cachorro para ser um bom caçador de perdizes. É treinado para ser um simples técnico, sem consciência crítica, e não para ser um ser humano. Sua mente - que já não é mais sua - é apenas um “depósito”, um recipiente passivo: daí o nome de educação “bancária”, pois a mente do oprimido é apenas um banco onde se faz depósitos de dados.

Nela [nessa espécie de educação], o educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam / significação. A palavra, nestas condições, se esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Daí que seja mais som que significado e, assim, melhor seria não dizê-la” (2008, pp. 65-66).

Quer dizer, o indivíduo perde a noção de totalidade e se transforma apenas numa peça dentro da engrenagem do sistema, como se pode ver no filme de Charles Chaplin, “Tempos modernos”. Como não pode ter uma visão de totalidade, então não compreende o sistema, não sabe como gerenciá-lo e nele apenas desempenha marginalmente a “sua parte”. Em conseqüência, adquire uma “consciência de pedaços”. E os trabalhadores mais graduados, que ganham melhor, se dizem também apenas “técnicos” e que não fazem política, que são neutros. Este técnicos, medrosos, puxa-sacos, que não fazem política, sempre tem a sua política e frequentemente escolhem a pior delas. A pior política não para si, mas a pior para o povo.
É este tipo de educação que visa apenas “encher o saco” do educando que precisa ser combatido para que, no futuro, o homem educado venha um dia a se libertar da opressão.

A dialogicidade

Dialogicidade é uma palavra composta, que vem do grego: DI, que significa dois, e LOGOS, que significa razão, ciência, palavra. Significa que não é monólogo (mono: uno, unidade), mas troca de palavras entre duas pessoas ( ou mais pessoas, por extensão do sentido da palavra).
Quer dizer, a educação se faz conversando, trocando idéias, comunicando-se. Em sociologia, isto se chama “interação”, processo pelo qual as pessoas se completam, se enriquecem compartilhando informações e experiências de vida. E esse enriquecimento de experiência de vida tem por objetivo transformar o mundo para o bem-estar da Humanidade.
Karl Marx já dizia: os homens só fizeram até agora interpretar o mundo; daqui para frente cabe transformá-lo. Quer dizer, interpretar o mundo é compreendê-lo, através da ciência, da teoria. Mas só a teoria não basta, é preciso ação, prática e não prática cega, pois esta leva apenas ao ativismo, ao obreirismo. Ou seja, precisamos de palavras e obras, de teoria e prática. A união da teoria e da prática é que se chama práxis, que é ação consciente, reflexiva, para transformar o mundo para o bem do próprio homem. Diz Paulo Freire:

“Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo” (2008, p. 89).

E Paulo Freire acrescenta a palavra amor, como condição para essa práxis. A práxis deve ser libertadora de todos para uma vida de convivência, de solidariedade, de ajuda mútua, excluindo a caridade, a esmola. Não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar, como oferecia o exemplo dom Helder Câmara. Hoje (13-03-2011), ao assistir o programa Globo Rural, vimos o exemplo do Projeto de Assentamento Dom Helder Câmara, que ocorre em de 6 Estados nordestinos, onde os trabalhadores estão aprendendo a conviver com o semi-árido, a caatinga, de modo sustentável e sem paternalismo, o que faz jus às seguintes palavras do grande bispo cearense: “quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; mas quando pergunto por que os pobres não tem comida, me chamam de comunista”...
Ora, os pobres não tem comida porque a sociedade onde vivem é injusta e não lhes dá oportunidade de produzirem seu próprio sustento.
Enfim, os pobres não precisam da caridade da burguesia, não são preguiçosos, nem incompetentes. São capazes de se organizarem, de progredirem, bastando para isso de uma educação que não seja alienante, embrutecedora e corrompendora da mente humana.

A Teoria da Ação Antidialógica

Neste capítulo 4 e último de seu livro, Paulo Freire trata da educação antidialógica, que visa manter as massas no estado de submissão e de alienação onde se encontram. Neste tipo de educação não há diálogo, pois sua finalidade é impor no educando, pela prática autoritária, as idéias e valores da elite dominante. Por isso, Paulo Freire deseja que o homem possa emergir (“sair fora”) desse ambiente opressor:

“Desta maneira, começaremos reafirmando que os homens são seres de práxis. São seres do quefazer, diferentes, por isto mesmo, dos animais, seres do puro fazer. Os animais não ‘admiram’ o mundo. Imergem nele. Os homens, pelo contrário, como seres do quefazer ‘emergem’ dele e, objetivando-o, podem conhecê-lo e transformá-lo com seu trabalho” (2008, p. 141).

Quer dizer, os animais não tem mundo, mas entorno. E os animais, como não são racionais, não trabalham, apenas estão em atividade. E é através do trabalho que o homem se libertará e construirá seu bem-estar aqui na Terra.
Mas que tipo de trabalho? O trabalho livre. Hoje, o que existe é o trabalho alienado (não livre), que escraviza o homem, impede sua realização, sua busca pela felicidade.
O comunista diz: o fruto do meu trabalho deve ser revertido em meu benefício próprio e não dos outros. Mas o capitalista diz: o fruto do trabalho da classe operária deve ser revertido, pelo menos em sua maior parte, em benefício da classe burguesa. É aqui que é situada a Luta de Classes: os trabalhadores querendo ser donos do seu próprio trabalho e os capitalistas desejando se apropriar do fruto do trabalho alheio. A parte que a classe burguesa toma da classe trabalhadora é o que se chama de trabalho alienado, cedido, à força, para os capitalistas .
Por isso, o trabalho alienado precisa ser exterminado, juntamente com a educação antidialógica, pois esta perpetua a exploração do trabalho alheio, gerando a injustiça e a desigualdade social. Esta educação (ou anti-educação) tem como funções básicas dividir a classe trabalhadora (especialmente fazendo um hiato entre a classe trabalhadora e suas lideranças – peleguismo”) para poder reinar e manter a opressão. Precisa manipular as informações para confundir as massas e precisa disseminar pelos meios de comunicação uma cultura antipovo.

“As massas populares não tem que, autenticamente, ‘admirar’ o mundo, denunciá-lo, questioná-lo, transformá-lo para sua humanização, mas adaptar-se à realidade que serve ao dominador” (2008, p. 143).

A teoria antidialógica leva a uma anti-praxis que visa a perpetuação do sistema de exploração do homem pelo homem. Por isso, Paulo Freire termina seu livro pedindo a volta a um pedagogia do diálogo, visando a libertação do homem e a construção de uma sociedade justa, onde não mais existam nem explorados nem exploradores.

CONCLUSÃO

Enfim, Paulo Freire condena a educação vigente, ofertada pelo sistema oficial, porque esta manipula o educando, colocando em sua mente os valores da elite dominante.
Esta elite, por ser rica, por possuir os meios de comunicação ( “mídia”), como TV, rádio, jornal, revista, etc. tem poder sobre a escola, pode produzir, por meio da “indústria cultural” uma “cultura de massa”, que seria melhor dizer uma “cultura para as massas”, cultura essa que representa as idéias e os valores da classe dominante. Ou então, é lixo ideológico que visa apodrecer a mente do consumidor, da massa passiva.
Como uma das provas disso, até bem pouco tempo, uma rede de TV nacional colocou no ar uma sessão de cinema chamada “trash”. Esta palavra inglesa significa “lixo”. Ou seja, a própria emissora admitia oficialmente que sacudia sacos e mais sacos de lixo sobre a mente das massas desprovidas de espírito crítico. E a maior parte da programação da TV aberta no Brasil é alienante. Cerca de 30% é propaganda, 10% noticiário, geralmente tendencioso e o restante é de novelas, filmes, receitas para se cozinhar, fazer bolos, música de qualidade ruim, etc. Para encerrar, escolhemos dois exemplos concretos para demonstrar como a elite dominante manipula as massas, como disse Paulo Freire, no livro analisado acima.
Cerca de 90% das notícias internacionais chegam até nós por meio de três agências estrangeiras, duas americanas e uma francesa. Veja um caso concreto da Associated Press (AP): das 100 notícias que a sede recebe de sua filial em Buenos Aires, oito são selecionadas, reescritas e divulgadas pelo mundo afora. Dessas 100, apenas 13 eram sobre violência. Seus redatores então escolhem a maior parte delas sobre violência, que é então jogada no ar.
Para o público desinformado, a impressão que passa é que Buenos Aires é violenta e isso afasta logo os turistas. Mas se o governo argentino ou sua rede de turismo oferecer propina a essa Agência, a coisa muda totalmente. Claro que essa propina não é direta: faz-se uma campanha internacional para incentivar o turismo para Buenos Aires e contrata-se uma Empresa Internacional de Propaganda ligada àquela Agência e logo as notícias ruins sobre a capital argentina desaparecem.
Por fim, um último exemplo. O ator americano Marlon Brando recebeu um Oscar como ator e o recusou. Mas antes preparou um escândalo: mandou uma atriz trajada de índia para receber o prêmio e na hora da entrega ela abriu a boca: Marlon Brando recusava a “honraria” e só aceitaria o prêmio quando Hollylwood deixasse de produzir filmes em que os índios são massacrados, representados como alimárias, selvagens, bêbados, supersticiosos, canibais, criminosos, etc. Foi uma verdadeira “saia justa”. Mas os americanos não mudaram de opinião. Eles continuam tratando as pessoas do Terceiro Mundo como bestas. Os habitantes da América Latina, por exemplo, são considerados seres exóticos, misturas de pretos e índios, incultos, selvagens, bárbaros, que vivem prejudicando os americanos. E eles, os americanos, são os mocinhos, os bonzinhos e que sempre salvam o mundo...

BIBLIOGRAFIA

- Freire, Paulo – Pedagogia do oprimido, São Paulo, Editora Paz e Terra, 47ª, ed., 2008.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial